fonte: G1/Jornal Hoje
O Jornal Hoje acompanha o drama de pacientes com câncer que não conseguem começar o tratamento. Um aposentado que descobriu o câncer em outubro do ano passado vai ter que passar por uma cirurgia, que foi marcada para o próximo mês.
Caminhar pelo quintal tem sido um exercício cada vez mais raro para o aposentado Agostinho Gonçalves dos Santos, que tem câncer na próstata. É que sentado ou na cama ele sente menos dor.
O aposentado tem enfrentado um calvário para conseguir uma cirurgia para a retirada do tumor. Em julho de 2015, ele procurou um posto de saúde porque estava com dores e tinha dificuldades para fazer xixi: “Comecei fazendo exames, do posto me mandaram para o AMA (Atendimento Médico Ambulatorial) de São Mateus e fiquei sendo medicado pelo médico e ele passando remédio pra eu tomar, eu tomando, mas nada resolvia”.
Depois de ver Agostinho ser mandado para casa várias vezes apenas com remédios para dor, o filho dele, Marcelo, decidiu acompanhar o pai e exigiu que fossem feitos exames no aposentado. Só em outubro uma biópsia confirmou o câncer, mas a primeira consulta veio apenas este ano. Ele foi encaminhado ao Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC) e aí sim, de fevereiro a março, começaram os exames.
Em 27 de abril, ele recebeu um comunicado sobre como se preparar para o procedimento, mas até agora, nada: “Me queima e arde a hora que eu vou no banheiro. Tem vez que passo a noite todinha acordando de instante em instante”.
Marcelo chegou a mandar um e-mail para o instituto pedindo pressa na cirurgia. Há duas semanas, o IBCC respondeu, também por e-mail, que a cirurgia estava programada para julho, mas não informou nem dia, nem hora. Só orientou Agostinho para esperar o contato do hospital. “Eles falaram que provavelmente vai ser mês que vem, mas poxa, tá passando tempo. É um problema sério e cada dia que passa diminui as chances. Só quem passa é capaz de dizer o que a gente tá passando, é muito triste”, relata o filho.
O caso de Agostinho é mais comum do que a gente imagina. A ONG Oncoguia em São Paulo atendeu no ano passado 4,5 mil pacientes de câncer. Desses, 1575, ou 35%, reclamaram do Sistema Único de Saúde, da falta de médicos, de exames e de tratamento.
“Hoje no mundo do câncer a gente tem uma boa notícia: quanto mais rápido coisas acontecem, mais sucesso tem. Claro que é muito ruim a gente ver pacientes na fila, esperando. A gente corre risco da doença avançar, mais agressivo”, explica Luciana Holtez, presidente Oncoguia, que orienta e apoia pacientes com câncer.